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Para refletir..

"Se quisermos nos libertar do sofrimento, não devemos viver do sofrimento e
 assassinato infligidos a outros seres animais" (Paul Carton)

E por que não podemos nos indignar pelos animais?


Compartilhando este excelente texto que circulou nas redes sociais nos últimos dias em resposta às velhas e já conhecidas críticas que os defensores dos direitos dos animais escutam diariamente.

O cão, o garoto gay, o político corrupto

Original publicado no blog DEVIR e compartilhado por Viviane Alexandre

Dentre as incontáveis falácias argumentativas que se infiltram em nossos discursos, uma em especial merece toda nossa atenção e carinho: o falso dilema. Ou, como prefiro chamar, a falácia da falsa escolha. Ela sempre surge quando, no discurso falado ou escrito, alguém insiste ou insinua que duas opções são mutuamente excludentes. Trata-se de um recurso muito utilizado no jogo político, quando se tenta cooptar a população a fazer uma escolha entre A ou B, ainda que A e B não sejam as únicas opções reais.

Vale destacar, contudo, que as falácias argumentativas, sejam elas quais forem, não constituem necessariamente um procedimento intencional. A pseudológica se infiltra em nossa comunicação cotidiana, e mesmo o mais treinado dos filósofos pode incorrer em erro. Independentemente da intencionalidade, é sempre importante avaliar se um discurso é lógico. Trata-se da diferença entre ser ou não ser manipulado.

A estrutura do falso dilema é simples:

Ou A ou B. Se não A, logo B.

O senso comum aceita esta estrutura com bastante facilidade. Ela é totalmente falsa, entretanto.

Vamos a um exemplo real muito simples:

“Os paulistas são palmeirenses ou corintianos. João não é palmeirense. Logo, João é corintiano”

Notem que a estrutura seria válida, se de fato todos os paulistas fossem apenas palmeirenses ou corintianos. Mas não é verdadeira, pois existem paulistas santistas, flamenguistas, paulistas que não gostam de futebol e não torcem para time algum etc.

“Ou mantemos armar nucleares, ou seremos atacados”

Falsa escolha evidente: não ter armas nucleares não implica necessariamente em ser atacado.

Recentemente, por ocasião do vídeo que mostra uma enfermeira torturando e matando um cão yorkshire, viu-se uma comoção pública geral, em que muitas pessoas clamavam a importância de punir aqueles que maltratam animais.

É quase uma lei da natureza: sempre que alguém fala da importância de cuidar dos animais ou milita em prol dos direitos animais, surge alguém questionando por que as crianças de rua não são importantes, ou por que os militantes de direitos animais não se importam com racismo, homofobia, misoginia, ou [insira aqui a causa de sua preferência].

Trata-se de clara falácia do falso dilema:

Ou direitos animais ou direitos humanos. Alessandra escolheu direitos animais, logo não escolheu os direitos humanos.

Este argumento é totalmente falso. O fato de uma pessoa sentir mobilização para lutar pela causa dos animais não significa que ela não se importe com os direitos humanos (e vice-versa). Qualquer tentativa de insistir nisso é maldosa e não tem lógica nenhuma.

Ainda na ocasião do assassinato do yorkshire, vi algumas pessoas lembrando que ano passado um adolescente (Alexandre Ivo) foi assassinado por motivação homofóbica. Estas pessoas reclamavam que, na ocasião, não houve a mesma comoção. Aqui, é preciso ter alguns cuidados: 1. Será que não houve a mesma comoção? Como quantificar isto? 2. Ainda que não tenha ocorrido a mesma comoção, isso não invalida (ou não deveria invalidar) a indignação contra o assassinato cruel do yorkshire.

Em essência, a afirmação poderia ser resumida da seguinte forma:

“Ao invés de se indignar com o assassinato do cão, vocês deveriam se indignar com o assassinato do garoto gay.”

ou

“Ao invés de se indignar com o assassinato do cão, vocês deveriam se indignar com o fato de que crianças estão nas ruas, morrendo de fome ou fazendo trabalho escravo.”

A charge abaixo foi uma das que mais vi ser publicada dias atrás, tanto no Facebook quanto no Twitter:



Se A, então não-B = FALSO
Ora, não é verdade que quem se importa com animais abandonados não liga para injustiças sociais. Insinuações em contrário, ainda que engraçadas, são maldosas. O que acontece é bastante simples de entender: as pessoas, por motivações diversas, são mobilizadas com mais intensidade por algumas coisas.

Há quem sinta especial mobilização pelos direitos dos animais. Há quem sinta especial mobilização pela causa gay. Há quem sinta especial mobilização para lutar contra o machismo, o racismo etc. Uma coisa não exclui a outra, e não são os outros que devem determinar (sobretudo a partir de argumentos coercitivos e falsos) as causas pelas quais nos importamos.

Vamos voltar no tempo. Quando Alexandre Ivo (um garoto de apenas 14 anos) foi assassinado em decorrência de homofobia, vi um sem-fim de pessoas denunciando o caso, falando sobre a importância da criminalização da homofobia etc. Eu fui uma dessas pessoas. Foi sem surpresa alguma que vi algumas pessoas postarem argumentos de falsa escolha. Diziam elas: “a homofobia é um problema, mas é um problema menor. As pessoas deveriam se preocupar mais com a corrupção, com políticos corruptos”. Diante de um anúncio que conclamava as pessoas a marchar contra a homofobia, várias outras postavam: “por que não fazem uma marcha contra a corrupção?”.

Notem que este tipo de discurso não é – estruturalmente falando – nada diferente do que está implícito na charge que postei aqui. Se fossemos desenhar uma charge baseada no discurso “ou homofobia ou corrupção”, ela seria mais ou menos assim: de um lado, pessoas fazendo passeata contra a homofobia. Do outro, um político roubando a todos e ninguém ligando.

Mas por que lutar contra a homofobia implica em não ligar para a corrupção? E quem disse que militantes anti-homofobia não se importam com a corrupção? O que mede o “se importar”? Xingar muito no Twitter?

O fato é que, além da falsa escolha, somos acometidos por um tipo muito sinuoso de narcisismo. Achamos – perdão, fui delicado, na verdade nós temos certeza – que nossas escolhas, militâncias, atitudes são as melhores e mais importantes do mundo. E que o outro, seja lá quem for, não procede do “jeito certo” [evidentemente, o "jeito certo" é sempre o nosso].

Não me espanta, contudo, que o oprimido possa se converter em opressor, mas não deveria ser assim. Quem se lembra [eu lembro] das cobranças injustas que ocorrem sempre que se milita contra a homofobia, o machismo ou o racismo, não deveria fazer as mesmas cobranças injustas quando outras pessoas [por motivações pessoais e vontade real] militam pelos direitos animais.

Outro tipo de falso dilema é continuamente criado também por alguns militantes dos direitos animais. Vi alguns vegetarianos postarem que aqueles que se indignaram com o assassinato do yorkshire são hipócritas, já que comem carne de vaca, porco, galinha, peixe etc.

Notem o falso dilema:

Ou você é vegetariano, ou não se importa com animais. Alex não é vegetariano, logo ele não se importa com os direitos animais.

Há alguma verdade quando se diz que quem se importa com os direitos animais deveria, sim, se importar com vacas, porcos, peixes, galinhas. O fato é que não necessariamente as pessoas se importam com os direitos de todos os animais, mas tão somente com os animais domésticos, com os quais estabelecemos vínculos afetivos. Neste caso, ainda assim não é verdadeiro se valer do argumento do ou/ou. Trata-se de uma diferença de grau de importância, e este grau de importância é passível de ser expandido com o tempo.

O que fica saliente, em todas estas celeumas, é o poder de afastar possíveis parceiros de luta a partir de discursos maldosos. Falácias lógicas costumam ter poder intimidatório, mas dificilmente se revelam funcionais quando queremos convencer alguém de algo. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que está sendo sacaneada, e ergue defesas naturais, ainda que não consiga localizar exatamente onde está o erro no argumento do outro.

Abolicionismo: vanguarda utópica ou futurista?

Por Jean Pierre Verdaguer
Publicado originalmente no site Vegetarianismo

Desde que as primeiras civilizações vicejaram sobre a Terra, indivíduos, grupos, povos e até etnias inteiras são vítimas de agressões violentas, humilhações, explorações e escravizações. Pérsia, Grécia, Índia, China... Mesmo as aparentemente iluminadas civilizações antigas mantiveram, em algum momento, regimes escravocratas, divisão por castas e outros tipos de exploração sistemática de seres humanos. Até tribos indígenas rudimentares do Brasil pré-descobrimento tinham o costume de raptar e escravizar membros de tribos rivais, o que denota que o hábito sequer se restringe às chamadas grandes civilizações.
Na época das grandes navegações e da expansão do mundo conhecido, a economia mundial era praticamente movida sobre as sangrentas rodas e engrenagens de regimes autoritários, monárquicos e escravocratas. Com o tempo – e o advento do capitalismo primitivo –, esses regimes entraram em declínio e, conseqüentemente, para evitar o colapso total do sistema, se viram obrigados a mudar as regras do jogo. Começaram, um a um, a abolir (ou seria abdicar?) o uso de trabalho escravo, entre outras medidas.

Embora muitos pensem que essas atitudes libertárias tenham sido desencadeadas pelos novos paradigmas iluministas e positivistas, ou por grandes levantes liderados por idealistas abolicionistas que forjaram, na marra, a libertação maciça de escravos, a nada romântica realidade é que os senhores de escravos vislumbraram promissoras vantagens econômicas em se desfazer daqueles trabalhadores – cuja subsistência dependia totalmente dos “donos” –, e substituí-los por outros bem mais baratos: assalariados, que davam o sangue com muito mais boa vontade e a custos muito menores.

Apesar disso, quase 150 anos depois da abolição, o Brasil continua sendo palco de notícias sobre trabalhadores encontrados em regime de escravidão ou semi-escravidão, nas barbas do poder público e às vistas da mídia onipresente, à taxa média, juram as estatísticas, de 25 mil novos escravos por ano!

No mundo todo, estima-se que existam 40 milhões de trabalhadores escravizados, 8 milhões de crianças tratadas como mercadoria e de 4 a 5 milhões de mulheres em situação de servidão sexual.

Também se fala em cerca de meio bilhão de pessoas maltratadas e impiedosamente exploradas em campos de mineração, estivas portuárias, latifúndios em áreas remotas, indústrias pesadas e etc, recebendo remunerações tão espantosamente baixas que chegam a soar improváveis quando trazidas à luz de reflexões sociológicas.

Sem contar a infinidade de mulheres acintosamente humilhadas – muitas das quais mutiladas! –, obrigadas a se submeter a tradições e leis machistas, preponderantes no oriente médio, na áfrica e em tantos outros lugares.

Os casos de violência doméstica, no mundo, contra crianças, mulheres, deficientes e idosos, são tão numerosos que carecem de estatísticas confiáveis. Podem beirar dois bilhões de ocorrências diárias!

O ser humano – assim parece –, por definição, explora. Pai explora filho, marido explora esposa, neto explora avô, irmão explora irmão, patrão explora funcionário, fortes exploram fracos, poucos exploram muitos, corporações exploram milhares, igrejas exploram milhões, tiranias e etnias exploram bilhões...

Daí o monumental obstáculo que emperra a eficiência do movimento pelo abolicionismo animal: agindo junto a uma sociedade de humanos que histórica, diária, sistemática e inevitavelmente exploram impiedosamente uns aos outros, torna-se humanamente impossível lhes inocular a noção de que não é razoável abusar dos outros animais.

Em outras palavras, como sugerir o uso do senso ético a uma sociedade que sequer veio com esse software instalado?

Assim sendo, como, em sã consciência, pode um ativista do direito animal pregar o abolicionismo total e irrestrito e não se abalar diante dos pálidos resultados dessa luta inglória? O desafio, hercúleo, é tamanho que se torna quase uma missão mítica, utópica, profética... Tende a virar questão de fé e acaba assumindo ares de religião, com direito inclusive a seus dogmas, tabus e estigmas.

Um dos maiores problemas que a dogmatização do abolicionismo acarreta, para a própria causa que defende, é a pressão contrária que muitos de seus adeptos freqüentemente exercem sobre uma corrente diversa de defesa dos direitos animais, que chamam – em geral, pejorativamente – de bem-estarismo. Para o pensamento abolicionista mais ortodoxo, o bem-estarismo traria prejuízos incalculáveis à “verdadeira” causa do direito animal, por lutar “apenas” por melhorias nas condições de criação, tratamento e abate dos bichos. “Ora”, afirma-se com fervor, “se o mundo todo adotar o bem-estarismo como meta, logo os animais estarão sendo tão ‘bem-tratados’ que será inútil qualquer iniciativa para tentar livrá-los definitivamente da sina da exploração comercial humana”.

O que tal pensamento não considera – ou reluta em admitir – é que, embora todas as premissas e justificativas do abolicionismo integral sejam coerentes do ponto de vista ético, a sociedade humana simplesmente ainda não se mostra pronta para aplicá-las na prática.

O abolicionismo é, por assim dizer, uma corrente de pensamento de ultra-vanguarda, muito à frente do seu tempo, apesar de já existir há mais de um século. É, porém, um movimento necessário e se faz premente que haja associações de pessoas dispostas a levá-lo adiante. Mas essas pessoas não deveriam perder de vista a perspectiva de que somente mudanças gerais e profundas nos paradigmas de funcionamento da sociedade moderna é que levarão ao cabo os últimos (primeiros?) objetivos abolicionistas. E que essas mudanças ainda podem levar muito tempo, em vista do atual padrão de consumo global e da ideologia vigente.

Suas ações podem e deverão ser fundamentais na aceleração do processo de mudança desses paradigmas, mas será muito mais crucial a influência do fator que sempre pesou sobre a humanidade: a conveniência econômica. Assim como os regimes escravocratas deram lugar ao regime assalariado por motivos econômicos, a exploração de animais só terá fim quando se provar inviável economicamente. E isso, não graças a fatores muito animadores, deverá obrigatoriamente acontecer dentro de mais algumas décadas.

Por sinal, eis a brecha por onde entram em ação as principais armas das correntes abolicionistas mais “produtivas” hoje: as frentes de libertação animal que visam à deterioração da indústria exploratória, como a ALF, impondo dificuldades ao funcionamento do sistema e causando prejuízos tanto materiais como morais às empresas e instituições que se aproveitam de animais. Essas organizações, em geral clandestinas ou “extra-oficiais”, têm logrado, a seu modo, conquistas importantes para a causa abolicionista. Além da liberação efetiva de muitos animais, conquistam exposição na mídia para o conjunto de pensamentos em favor da defesa dos direitos dos animais, levando o debate ao alcance de uma opinião pública historicamente privada de tais informações.

No âmbito das iniciativas menos agressivas e mais políticas do ativismo abolicionista, alguns avanços se fazem possíveis, mas também são confrontados com fatores de ordem econômica. As chances de sucesso de ações jurídicas, manifestações populares, campanhas informativas e pressões políticas contra as atividades de um circo, por exemplo, são bem maiores do que contra um festival de rodeio. Isso porque ações abolicionistas diretas surtem tanto mais efeitos positivos, quanto menos interesses econômicos e políticos estiverem em jogo. Como, de resto, tudo o mais na sociedade moderna.

Essa lógica nos obriga a constatar que as indústrias alimentícia e de pesquisa científica, que envolvem lobbies particularmente poderosos e cifras virtualmente inimagináveis, estão praticamente fora do alcance do ativismo abolicionista. Na atual conjuntura global, quase nada pode ser feito no sentido de obtenção de moratórias de exploração animal por esses setores. Podemos dizer que o mesmo ocorre, em menor escala, com a indústria da moda, que é alvo freqüente de ações e manifestações e, ainda assim, absorve facilmente os prejuízos causados e mantém o negócio de couro e peles funcionando a todo vapor.

Bem, se admitirmos que a sociedade moderna de consumo não está (ainda) pronta para absorver integralmente os ideais abolicionistas e que, por mais que o ativismo se incremente e avance na direção de dificultar as coisas para as indústrias exploratórias, ainda levará décadas até que seja factível aplicar na prática esses mesmos ideais com eficiência, não faz nenhum sentido se opor tão radicalmente ao chamado bem-estarismo animal. Não, ao menos, do ponto de vista da geração de animais que está sofrendo agora: hoje, no mundo todo, são cruelmente abatidos mais de 2 mil animais por segundo! E todos mortos depois de terem vivido sob as condições mais miseráveis que se possa imaginar.

Inevitavelmente, essas décadas, que podem ser cinco, seis ou mais, transcorrerão paralelamente ao sofrimento de trilhões de animais, que não terão outra alternativa senão a melhoria de suas condições de vida e abate, até que a revolução abolicionista se torne viável. Eis um paradoxo desconcertante e ardilosamente difícil de equacionar: a oposição ferrenha ao bem-estarismo não tem nos orientado rumo ao abolicionismo e ainda leva à divisão, em facções, um contingente de ativistas que, unidos, teriam muito mais influência e poder de fogo para acelerar o processo rumo ao abolicionismo integral.

É curioso notar que ambas correntes ideológicas criticam-se amiúde e mutuamente, mesmo quando é evidente que suas causas favorecem os mesmos sujeitos (os animais explorados) e seus objetivos são perfeitamente compatíveis (diminuição do sofrimento, de um lado e, do outro, fim da exploração).

Não se trata de sugerir que abolicionistas abram mão da legitimidade de seus ideais, nem de pedir para aderirem ao bem-estarismo. Mas, antes, de convidá-los a encarar as duas modalidades de defesa dos direitos dos animais como estratégias complementares, cada uma a seu tempo, com seu ritmo e em seu contexto. Trata-se, por fim, de dar vazão à razão concomitante a paixão, equilibrando-as numa receita que lhes permita enxergar, no que chamam de bem-estarismo, a solução para uma demanda imediata de bilhões de animais que, no curto prazo, não serão libertados em nenhuma hipótese, mas que têm chance real da conquista de condições de vida menos desfavoráveis. E de focalizar os esforços estritamente abolicionistas nas ações que visem à futura e definitiva eliminação, a médio e longo prazo, dos monstruosos “estoques vivos” mantidos pela indústria exploratória.

Para terminar, uma proposta de exercício imaginativo em que não há respostas, apenas perguntas.

Se houvesse tecnologia para entender o pensamento animal, e se com ela pudéssemos escutar o que diz um porco em sua baia minúscula, muito provavelmente ouviríamos “por favor, irmão, eu lhe imploro, trate de convencer os humanos de que não está certo o que fazem conosco”, numa súplica que nos indicaria claramente o caminho do abolicionismo.

Sendo honestos com o porco, teríamos que responder, “estamos fazendo todo o possível, mas os humanos não são fáceis de lidar, são séculos de hábitos arraigados para transcender. Continuaremos lutando pela abolição com todas nossas energias. Mas, por hora, o máximo que podemos fazer é aumentar o tamanho de seu cativeiro, melhorar suas condições de vida e amenizar os horrores da sua morte”.

Como será que ele reagiria? “Muito obrigado por seus esforços, todo alívio é bem-vindo! E tomara que consiga nos libertar no futuro”. Ou “muito obrigado, mas se não pode libertar a mim e aos meus, migalhas bem-estaristas jamais aceitaremos”.

Beautiful Vegan

Nossa descoberta mais recente... um blog super bacana com uma compilação de vídeos e documentários relacionados ao veganismo e à luta pelos direitos animais. Clique na imagem para entrar. 

Sentient beings with feelings...


"Não comer carne significa muito mais para mim que uma simples defesa do meu organismo; é um gesto simbólico da minha vontade de viver em harmonia com a natureza. O homem precisa de um novo tipo de relação com a natureza, uma relação que seja de integração em vez de domínio, uma relação de pertencer a ela em vez de possuí-la. Não comer carne simboliza respeito à vida universal." (Pierre Weil)

The Animal Rights Library



Super dica para quem deseja ler e conhecer mais sobre grandes referências teóricas na questão dos direitos animais: The Animal Rights Library.

O Colégio Leonardo da Vinci e a boçalidade de alguns alunos e funcionários...

Esta semana foi postado na internet um vídeo em que alunos do Colégio Leonardo da Vinci em Brasília (unidade Asa Norte) zombam de forma estúpida de uma galinha, que fora levada dentro da mochila de um estudante, como pode ser visto aqui. Após ter sido tratada com chacota pelos alunos, o animal ainda teve a infelicidade de ser arremessado para fora do colégio pelos ares, nas mãos do coordenador Luciano Brandão Galo. Ao todo, chama atenção aqui 3 comportamentos preocupantes: 1) o do colégio, que admite este tipo de tratamendo aos animais; 2) o do coordenador, que demonstrou absoluto desrespeito para com um ser vivo e não deveria ocupar um cargo desta natureza; e, por fim, 3) os alunos, cuja atitude cruel, covarde e irresponsável provavelmente reflete o pensamento de grande parte da nossa sociedade em relação aos animais.

Resumindo: vivemos em um mundo especista, que está longe de entender e colocar em prática noções básicas como respeito à natureza, à vida e aos seres vivos.

Se você também reprova este lamentável episódio, gostaríamos de te pedir uma gentileza. Por favor, escreva para o Colégio Leonardo da Vinci e manifeste seu total e completo repúdio em relação ao ocorrido e peça que as pessoas envolvidas nesse caso - alunos e coordenador - sejam responsabilizados pelos seus atos. Somente expressando nossa indignação podemos ter alguma chance de que evitar que novos incidentes como este aconteçam. Para escrever, entre no formulário online aqui. Escolha a unidade "asa norte" e depois, em assunto, a opção "crítica". Aqui vai uma sugestão de mensagem:
Venho por meio desta mensagem expressar meu completo repúdio em relação ao episódio lamentável ocorrido na unidade da Asa Norte do colégio Leonardo da Vinci, em que alunos levaram uma galinha, a maltrataram e a trataram com zombaria. Para completar meu choque ao ver o vídeo publicado na internet, foi igualmente lastimável ver o comportamento do coordenador Luciano Brandão Galo, que pegou e arremessou o animal de forma brutal para fora da escola. Lembrando que maus tratos contra animais é crime previsto em lei, gostaria de cobrar deste estabelecimento providências no sentido de que as pessoas responsáveis por tal comportamento sejam punidas e advertidas em relação ao ocorrido. Estou encaminhando ainda denúncia na Delegacia do Meio Ambiente.Sem mais no momento. (seu nome aqui)


Aproveitamos para lembrar que maltratar animais é CRIME E DEVE SER DENUNCIADO, SEMPRE! Veja no cartaz ao lado, disponibilizado pela PROANIMA - Associação Protetora dos Animais do DF, como isso pode ser feito.

A propósito, a PROANIMA ESTÁ ENCAMINHANDO DENÚNCIA às autoridades e solicita que a escola tome providência, não apenas para punir os culpados, como também para abrir dentro de sua comunidade a discussão sobre as implicações do respeito a outros seres sencientes para a construção de uma cultura da paz. Leia a carta aberta publicada aqui.

Lembramos que no Dia 10 de dezembro é o Dia Internacional dos Direitos Animais (DIDA). Criada pela ONG inglesa Uncaged em 1998, a data é uma alusão à ratificação, na ONU, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e visa chamar atenção para a necessidade de inclusão de todos os animais como sujeitos morais, de direitos, capazes de sentir e sofrer. Lamentavelmente, parece esse entendimento ainda vai demorar muito para alcançar a mente de algumas pessoas.


Direitos dos Animais - Edição do programa Justiça em Questão

Vale a pena assistir esta edição do programa Justiça em Questão dedicada ao tema dos direitos dos animais, exibida no início deste mês.




Bem-estarismo dá nisso!

Excelente artigo publicado por Sônia T. Felipe no site da ANDA
25 de novembro de 2011

Patê de foie gras ético? Estou até agora pensando qual seria o princípio ético capaz de justificar que os humanos forcem animais de outras espécies a nascerem, a comerem alimentos não apropriados à saúde de seu fígado, para depois os matarem “eticamente”, usando recursos tecnológicos dos quais nenhum animal de outra espécie pode escapar, se é que algum da nossa espécie o conseguiria. Pelo feito aos judeus sob o regime nazista, parece que a possibilidade de chegar à liberdade saindo de uma câmara de gás é realmente ínfima. Imagine essa possibilidade para os patos e gansos criados no regime de engorda e degeneração do fígado para a produção do patê. Eles matam o animal depois de gerar em seu fígado a esteatose, inevitável em consequência da alimentação que os obrigam a ingerir.

E chamam isso de patê de foie gras ético? Se isso for ético, então o nazismo também o pode ser, pois também mataram judeus com gás, em vez de seguir executando-os a tiros, à beira de uma vala cavada previamente por eles.

É nisso que dá, defender tratamento bem-estarista para os animais, e ao mesmo tempo fingir que assassiná-los não tem nenhuma implicação ética. Só uma moral esquizofrênica pode lidar com tais práticas com naturalidade. E só uma moral esquizofrênica pode separar as duas questões, a da vida e a da morte, como se uma não tivesse qualquer ligação com a outra. Só uma moral esquizofrênica pode admitir que comer um animal morto a gás é moralmente justificável, enquanto comer um animal morto a tiro, ou degolado, não o é.

Da perspectiva do animal que foi morto a gás, a vida dele importava tanto para ele, quanto importa a vida para o animal morto a tiros, ou por degola. Da perspectiva do animal morto a tiro dentro de um abatedouro, a vida dele importa tanto para ele, quanto importa a vida, para um animal morto a tiro numa floresta.

Defensores do “bem-estar animal” se animam quando Brigitte Bardot faz campanha contra o extermínio de animais abandonados na rua em país do leste europeu. Revoltam-se quando alguém os lembra que essa senhora não faz campanha para abolir a produção de foie gras em seu próprio país. Nas mesmas páginas da ANDA onde comentários são publicados sobre a técnica de abate de cães em restaurantes na China, para consumo de carne fresca por parte dos comedores humanos, há xingamentos a todo o povo chinês, gente pedindo que sejam mortos como matam aqueles cães, gente pedindo que um vírus ataque toda a população da China e a dizime. Mas, esses mesmo internautas apegados a cães e gatos, nunca se pronunciaram sobre o fato de que porcos são colocados ainda vivos nas caldeiras com água fervente, e têm essa experiência, a da água fervendo em seus pulmões, como último gesto humano contra sua vida. Mas, daí a concluir que, então, se o animal for morto sem dor, o ato de matá-lo torna-se “ético”, é um salto acrobático que nenhuma ética genuína está preparada fisicamente para fazer.

Assim, em cada país parece que as pessoas estão muito à vontade quando abraçam a sua espécie predileta de bicho, e muito nervosas ficam quando um bicho da espécie que escolheram estimar é tratado de modo cruel em outro país. Esse especismo eletivo assola as mentes humanas ao redor do planeta, menos a mente dos veganos, que não discriminam nenhum animal por conta de sua espécie.

Para que o fígado de um ganso ou pato deforme de tal modo que se torne dilatado e mole, podendo ser transformado numa pasta macia para passar no pão e na torrada de humanos que já estão muito bem alimentados e não têm carência alguma de proteínas, nem de origem animal, nem de origem vegetal, o animal é submetido a uma dieta absolutamente fora do padrão específico que configura a dieta de sua espécie. Quando o sustento desse animal começa a pesar no bolso do produtor, ele “acelera” o processo de degeneração do fígado dos bichos, introduzindo quantidades imensas de comida por um tubo enfiado pela boca até o estômago do animal. Por natureza, o animal não comeria mais do que o suficiente para sentir-se satisfeito. Por ser fonte de lucro para os humanos, ele é forçado a comer o que não suportaria, se estivesse livre. No esforço de digerir esse alimento, o fígado vai deformando, inchando. Assim alcança o ponto desejado pelo “produtor”. O ponto desejado pelo comedor que compra o foie gras. O ponto não desejado pelo ganso ou pato cujo fígado incha. A ética, nesse momento, em que o fígado do animal foi deformado pelo manejo que visa vendê-lo, não é chamada a julgar.

Chamam de “orgânica” a nova técnica de fazer inchar o fígado dos animais. Eles têm seu organismo igualmente deformado pela dieta oferecida, rica em gordura vegetal e grãos. Eles têm sua vida igualmente ceifada. Eles foram forçados a nascer apenas porque têm um fígado sensível a alimentos inadequados. Eles acabarão do mesmo modo, mortos. Seus fígados inchados e deformados acabarão do mesmo modo triturados até formarem uma pasta (patê). Essa pasta será igualmente passada sobre torradas e pães. A vida dos gansos e patos, criados no sistema de confinamento tradicional pela indústria do patê de foie gras, e dos criados no “sistema orgânico”, têm para os humanos que os criam, para os que os matam, para os que compram o tal do patê, o mesmo valor: nenhum. Destituir a vida de um animal de qualquer valor, e depois classificar de ético o sistema de tirar a vida do animal de forma que ele não perceba os gestos que o abatem, e chamar a essas invenções de “orgânicas” e “éticas”, é chegar bem próximo do limite da decência humana.

Há quem mereça comer esse tipo de alimento. Mas, os animais não merecem ser transformados em delicatessem para atender a apetites dessa pequenez moral. Nenhum animal merece isso, não importa o tipo de iguaria cobiçada pelos humanos. 

Na Alemanha, a produção do patê de foie gras foi abolida. Mas, a comercialização do patê de foie gras produzido na França, ainda não. Somado todo patê produzido no mundo, a França responde por dois terços dessa produção. Brigitte Bardot já afirmou que os árabes deterioram a finíssima cultura francesa com sua presença e valores. Mas, que eu saiba, não foram os muçulmanos quem inventaram enfiar comida garganta abaixo de um animal, para depois matá-lo e retirar seu fígado dilatado para fazer patê.

Aliás, pelos princípios religiosos muçulmanos, nenhum animal pode ser “desfigurado”. Nenhuma parte do corpo de um animal pode ser manipulada de modo a que perca o design de sua natureza específica. Quem são os bárbaros na “civilização” contemporânea?

Os abrigos para animais precisam de muita ajuda! Por que não se voluntariar?

Você não precisa de muito dinheiro para ajudar os animais. Tudo que você precisa para ser voluntário em um abrigo de animais é você! Leia mais para descobrir como é possível ajudar um abrigo perto de você.
Os animais precisam de ajuda em todos os lugares. Envolva-se com um abrigo local para melhorar as condições dos nossos irmãos não humanos. Além disso, você estará cercado por cães, gatos e outros bichinhos adoráveis. Quem não gosta disso? :)

1. Encontre um abrigo perto de você. Comece pesquisando os abrigos e grupos de proteção de animais da sua cidade. Você poderá localizar os abrigos ao procurar por locais e feiras de animais para adoção. Obtenha o número de telefone do abrigo e descubra quem trabalha lá.

2. Ligue para o abrigo ou envie um e-mail, e peça para falar com o coordenador de voluntários. Apresente-se - informe o seu nome, idade, e pergunte se eles aceitam voluntários ou se há outras maneiras de ajudar o abrigo. Descubra como funciona o local,descubra as melhores maneiras de colaborar.


Lembre-se: Abrigos sempre precisam de algum tipo de ajuda, você só tem que lhes dar algumas ideias! Aqui está uma lista de apenas coisas que você pode fazer para o abrigo:

- Mutirões de limpeza de gaiolas, quintal ou mesmo do escritório do abrigo;
- Fazer chamadas telefônicas ou fazer outras atividades de escritório em geral;
- Fazer decorações de festividades e comemorações ou eventos relacionados à adoção;
- Caso trabalhe com design de websites, crie uma página do site, um perfil no Facebook ou um blog do abrigo para ajudar a divulgá-lo;
- Tire fotos dos animais para adoção e ajude a divulgar;
- Torne-se um lar adotivo para os animais que não poderão permanecer no abrigo por falta de espaço (Aviso: esta ação definitivamente exige que isso seja combinado previamente em casa!)
- Ajude a captar recursos materiais às necessidades de abrigo (perguntar-lhes o que falta, antes de tudo) ou dinheiro para o funcionamento do mesmo. Algumas sugestões para arrecadação financeira ou de itens específicos são a organização de bazares, brechós, venda de tortas ou lanches, rifas, apresentações artísticas com entradas a preços simbólicos etc.


O mais importante é que sempre é possível fazer alguma coisa! Além disso, você estará em contato com muitas outras pessoas igualmente apaixonadas por animais e amizades como esta são sempre bem-vindas! Os peludos agradecem! :)

Inspirado em uma matéria publicada no site www.globalanimal.org

PETA e a campanha polêmica de Ação de Graças


Muitos americanos não gostaram e consideraram polêmica e provocativa a nova campanha da PETA para sensibilizar a população durante as comemorações de Ação de Graças. A imagem de um cão com corpo de peru acompanhada da pergunta "Crianças, se vocês não comeriam seu cão, por que comerão o peru?" foi uma excelente sacada para colocar o assunto em perspectiva na cabeça das pessoas que acham normal se alimentar de alguns animais e jamais considerariam a possibilidade de ingerir outros... e depois dizem que especismo não existe!
Destaque para a elegância, preparo e paciência (para aguentar o jornalista completamente sem graça) da representante da PETA, Lindsay Rajt, durante a entrevista para a FOX news.

A desanimalização do consumo humano: desafios da ética vegana

Palestra proferida pela professora Sônia T. Felipe (UFSC/ Univ. Lisboa) na abertura da Reunião de Fundação da Sociedade Vegana, São Paulo, 14/03/2010


Há milênios, humanos possuem animais, usam, escravizam e matam animais para atender a qualquer propósito seu. Há milênios, os humanos inventaram uma ética para justificar a animalização de seus hábitos e servir igualmente a seus propósitos, a ética antropocêntrica. Humanos inventaram não apenas a escravização de animais, alegando que eles são inferiores. Eles inventaram um modo de justificar suas práticas escravizadoras, ao argumentarem que seres inferiores a eles nascem para servi-los, e, por isso, são objetos passíveis de apropriação.

Chegou a hora de redefinir a concepção moral antropocêntrica, colocando-a em seu devido lugar: ela deve limitar-se a conceber os humanos como fonte da moralidade, definindo o fim último da ética como sendo o bem que os humanos podem fazer ao desanimalizarem seu consumo.

Por animalização da alimentação, vestuário, lazer, ciência e linguagem humanas, entendo toda prática levada a efeito às custas do bem próprio, da liberdade e da vida de animais não-humanos e humanos. A ética precisa partir do valor maior impregnado à existência dos seres vivos: poder viver em liberdade.

Na perspectiva ética vegana, humanos perdem o estatuto de proprietários e beneficiários da vida alheia. Reconhecer direitos fundamentais à vida e ao bem próprio de cada ser vivo é o modo razoável de resguardar a singularidade do bem próprio à vida deles, sendo indiferente ao agente moral a espécie à qual o animal pertence. Assumindo uma posição no âmbito do movimento vegano, o indivíduo orienta-se por um sentido positivo de expressão de si, compartilhado pela comunidade formada por outros que também assumem a perspectiva da ética animal não-antropocêntrica como eixo existencial de seu projeto de vida. Olhar os interesses animais com o mesmo respeito com que se olham os interesses humanos exige admitir para si mesmo e afirmar publicamente que a justiça genuína não será alcançada enquanto permanecer amordaçada e algemada por linhas divisórias tirânicas que desqualificam o valor inerente à vida de espécies diferentes da nossa.

A convicção que ilumina a atitude vegana é a de que não se pode ser ético e ao mesmo tempo negar que o bem próprio de outros seres vivos importa para eles, tanto quanto importa o nosso, para nós. Pensar com essa clareza conceitual motiva a agir em prol da construção de um modo de vida que afirma os direitos animais, ecossistêmicos e humanos, sem que, para cada um desses âmbitos tenha-se que forjar uma ética antagonista às demais. Nossa moralidade tem sido pautada até o presente momento sobre uma espécie de tricotomia moral: ela nos ensina a distinguir e discriminar interesses animais e de ecossistemas naturais, ao priorizar e privilegiar os interesses humanos, como se os humanos não fossem constituídos de tecidos, necessidades orgânicas e interesses naturais da mesma ordem em que o são os outros animais.

Ainda que, por um lado, a atitude vegana requeira um conceito claro da finalidade para a qual a ação é orientada, qual seja, resguardar o bem da vida, para todo indivíduo que a vive, sem especismos eletivos, tal radicalidade não inclui a proposta de que o veganismo deva impor-se como um modo de vida aos demais. Cada um de nós tornou-se vegano motivado por ideias, convicções e exemplos recebidos, sem imposição, do legado social e pessoal contra hegemônico. Em vez do padrão autoritário e conservador que tem caracterizado a moralidade até os dias de hoje, o veganismo adota um padrão não impositivo nem proibitivo, embora sua atitude siga com firmeza e coerência a prescrição inerente ao princípio ético fundamental da não-violência contra quaisquer indivíduos vivos.

Reconhecer, à própria biografia, que o uso de produtos de origem animal está definitivamente interditado, é uma conclusão natural para quem não admite que o bem-estar, a felicidade, o prazer ou qualquer outro benefício pessoal na vida, sejam alcançados à custa de dor, sofrimento, privação de liberdade e morte de outros, não importando o formato no qual esse outro aparece na esteira da vida.

Antes de seguir simplesmente a corrente vegana, cada indivíduo precisa entender o propósito dessa escolha, seu desdobramento e consequências. Sem compreender que o veganismo visa exclusivamente a libertação animal de todas as formas de exploração, uso, abuso e assassinato praticadas por humanos, não há uma atitude vegana genuína. Mas, achar que essa conquista será obtida de mão-beijada fere a intuição. A cultura na qual veganos têm que viver é absolutamente animalizada, no sentido exposto acima.

A decisão de tornar-se vegana ou vegano implica disponibilizar-se para enfrentar a própria formatação moral e os embates inevitáveis no âmbito da família, da escola, da atividade profissional e das demais práticas sociais, incluindo nelas o hábito de sair com amigos para comer fora, comprar presentes, organizar festas de final de ano, de aniversário, divertir-se e até mesmo escolher uma profissão.

Entender a natureza do ideal vegano como prescritiva, no sentido ético de ordenar as próprias ações à luz de um princípio moral válido no âmbito da própria biografia, mas não impositiva nem proibitiva à biografia alheia, e compreender que essa natureza deve nortear as ações educativas que visam orientar os demais para a tomada de decisão de tornar-se vegana ou vegano, é um desafio para todos os que ora se reúnem para fundar a Sociedade Vegana. A prescrição maior à qual todos estamos submetidos, a partir da qual as demais serão acatadas, é estabelecida, na Sociedade Vegana, não por fulano ou sicrano, pois isso caracterizaria autoritarismo e impositivismo, pelo princípio ético universal da não-violência, acompanhado da regra da coerência moral pessoal com tal princípio, e da disposição de fazer com que ele ilumine decisões pessoais e grupais a partir desse momento.

Para qualquer ser vivo, a maior violência que se pode cometer é tirar-lhe a liberdade de mover-se para prover-se seguindo o modo que melhor se adequa ao alcance do bem que lhe é próprio. Por isso, a defesa dos direitos animais passa inevitavelmente pela libertação deles de todas as formas de privação da liberdade à qual estão condenados no sistema que os torna objetos de propriedade humana. Não são os veganos quem proíbem outros de usarem animais como se fossem coisas descartáveis. Quem o faz é o princípio ético que todo humano admite como válido quando seu interesse em não ser sequestrado, usado, explorado e assassinado está em jogo. Por submeter-se ao princípio ético, o movimento vegano admite que tal princípio prescreve certas ações, e proscreve outras.

Ao submeter-se a um princípio ético de tal envergadura, o vegano sabe que deve manter-se coerente. Não pode levantar o princípio como escudo para defender-se da violência de outros humanos contra si, e baixá-lo para melhor poder praticar a violência contra outros animais.

Se o ideal normativo maior que prescreve nossa atitude em relação a animais de outras espécies não admite a propriedade sobre sua vida, seu organismo ou quaisquer partes e elementos extraídos e derivados deles, então ele prescreve absolutamente o princípio da não-violência contra eles.

A escravização de humanos foi abominada há quase dois séculos. Para fazer frente ao sistema das práticas institucionais que a fomentava, foi necessário um movimento político abolicionista. A violência da escravização de animais para fins humanos requer um movimento semelhante àquele, de envergadura incalculavelmente maior, pelo número de implicados nela. Semelhante, porque, nesse caso, as vítimas da apropriação não podem libertar-se, não podem juntar forças ou organizar-se para enfrentar a instituição da escravidão. Incalculavelmente maior, pois, no caso da abolição do uso de animais, estamos diante de algo espantosamente disseminado em todas as mentes humanas. O uso de animais não-humanos para atender interesses, necessidades e negócios humanos perpassa todos os âmbitos da produção e consumo de mercadorias e serviços.

A luta vegana não será travada contra inimigos externos, os tradicionais representantes do sistema institucionalizado de escravização de animais, interessados nos lucros que ela representa. A desanimalização de nosso consumo terá que enfrentar a matriz cognitiva e moral instalada em nossas próprias mentes. Formadores de opinião e educadores veganos devem estar cientes disso, e aprender a superar tal matriz cognitiva e moral em si mesmos, desdobrando as pregas nas quais a animalização dos benefícios obtidos pelos humanos tornou-se natural. Ao mesmo tempo, devem indicar caminhos para que outros também possam se desfazer desses hábitos arraigados. Produzir meios para que humanos mal-acostumados à escravização dos animais possam entender o erro moral em se viver às custas deles e tomar a decisão de abolirem de suas vidas os hábitos de consumo que fomentam tais práticas é tarefa central para os que ingressarem na Sociedade Vegana.

O princípio da não-violência prescreve a abolição de todas as formas de destruição praticadas contra seres vivos: mental, verbal e institucional; em outras palavras, a abolição de toda emoção negativa que envolva agressão contra qualquer ser capaz de sentir dor e sofrer; a abolição do uso de argumentos que justificam causar dor e sofrimento a qualquer ser senciente para servir a qualquer propósito humano; a abolição de todas as práticas individuais e institucionais de inflição de dor e sofrimento a esses seres, incluídos os da espécie humana. Ser vegano, portanto, implica em enfrentar o desafio de fazer uma faxina geral e profunda nos próprios conceitos, em erradicar qualquer emoção voltada à destruição dos interesses ou da vida de qualquer animal senciente, e a desassinar o contrato em vigor que nos autorizou moralmente a animalizar, isto é, a fazer uso dos animais, para quaisquer propósitos humanos.

Desdobrar as pregas da moralidade na qual estamos plissados requer coragem e persistência. Quando julgamos ter alcançado um patamar razoável de abolição de produtos de origem animal que antes compunham a cesta básica de nossa aquisição diária, somos confrontados com o fato de que quase todos os produtos da indústria química usados para confeccionar alimentos processados, tecidos, calçados sintéticos e outros itens do uso diário contém ingredientes produzidos com componentes derivados ou extraídos de animais.

A tarefa de desdobrar continuamente as pregas nas quais esconderam de nós a imagem de nossa moralidade animalizada é árdua. Ela representa um embate mental, emocional, espiritual, político, econômico e moral com os padrões ou conceitos forjados em nossa própria mente. A natureza positiva do ideal vegano pode ser melhor expressada na orientação constante que oferecemos às pessoas, na investigação ininterrupta que fazemos dos labirintos pelos quais se espalham em nossa mente conceitos e valores que ora nos dispomos a desanimalizar.

O que melhor um vegano pode fazer para mudar a moralidade vigente, é agir de forma firme e serena nessa busca. O exemplo de atitude vegana na própria biografia é o melhor legado que se pode deixar aos que nos rodeiam e aos que virão em seguida com tal propósito. Impor, ou proibir, não resultará em benefício para os animais que ora se encontram à espera da libertação. Argumentar com firmeza e lucidez, mantendo o princípio da não-violência e o propósito de abolir todo especismo eletivo como metas a serem alcançadas, fazem parte do caráter vegano. Radicalidade, nesse caso, não pode ser confundida com autoritarismo ou impositivismo.

Mas, para que esses três conceitos não sejam confundidos é preciso manter clara a linha divisória que separa as ações morais voltadas à defesa dos animais, impedindo, especismos eletivos, por exemplo, que certos tipos de animais recebam consideração, ao mesmo tempo em que se omite que outros da mesma espécie, mas de gênero distinto continuem a ser escravizados para atender aos negócios humanos, como é o caso de defender a abstenção da ingestão de carnes e silenciar sobre a ingestão de laticínios.

Pode intrigar a tese que defende a natureza prescritiva da ética vegana sem defender que ela seja impositiva ou proibitiva. Crer que prescrições, e não imposições e proibições, sejam o melhor caminho para uma educação moral genuína, produz certa ansiedade. Quem proíbe os humanos de fazerem certas coisas, ou impõe a eles rever os conceitos sobre os quais assentam sua moralidade, não são os veganos, é o princípio ético da não-violência, do respeito pela autonomia dos seres sujeitos de suas vidas, de quem jamais deveríamos ter tirado esse estatuto, em outras palavras, a quem jamais deveríamos ter escravizado.

Ainda que precisemos ser incisivos em nossos argumentos a favor de práticas coerentes para a abolição do uso de animais em quaisquer itens do consumo diário, não precisamos ser autoritários. A argumentação coerente e consistente tem sido acusada de, ou confundida com, autoritarismo. Cai-se, assim, no relativismo moral sob o qual padecem todas as espécies de seres vivos. Confunde-se permissividade com não-autoritarismo. Nessa lógica, o valor da vida dos animais torna-se relativo ao padrão dos interesses e negócios humanos que sofrem danos caso seja abolida a escravização deles. Não ser autoritário não é o mesmo que ser permissivo. Não se admite na própria biografia certos hábitos de consumo. Argumenta-se em público para fundamentar a escolha pessoal. Sugerem-se práticas substitutivas para ajudar outros indivíduos ou grupos a erradicarem o uso desses produtos e serviços. Não se faz as coisas pela metade. Se comer um certo tipo de alimento implica em causar dor e sofrimento aos animais, usados para extração da matéria desse alimento, e se isso não pode ser moralmente defensável, então, pela mesma razão, não é defensável comer qualquer outro tipo de alimento que tenha semelhante origem.

Ao prescrever uma atitude ou ação, o sujeito que o faz admite em si mesmo a capacidade racional. Acatar uma prescrição ética implica em admitir um princípio como universalmente válido, ainda que o modo prático pelo qual esse princípio venha a ser seguido possa variar de cultura para cultura ou de época para época. Admitindo sua própria racionalidade, isto é, admitindo que tem liberdade e inteligência para compreender, reconhecer e seguir uma norma moral, por reconhecê-la como válida, o sujeito imediatamente admite que o mesmo deve valer para os demais que o rodeiam. Prescrever o ideal vegano, nesse sentido, implica em admitir que cada um, munido das melhores informações e com domínio da perspectiva ética animalista, pode chegar à conclusão de que os animais não foram criados para atender aos caprichos e negócios humanos, e sim para viverem espécies de vida que têm singularidade em suas semelhanças e diferenças quando comparada às outras, tanto quanto a tem nossa própria vida.

Quando entendemos racionalmente o por quê de algo ser certo ou errado, queremos que os demais seres racionais imediatamente também o entendam. Mas, a construção da natureza ética nos humanos não se dá num passe de mágica. Mesmo quando temos clareza ética sobre uma série de questões morais, ainda assim relutamos em seguir aquilo que nossa razão nos dá por certo ou verdadeiro. A teia na qual nos enredamos, ao forjarmos o modo de vida antropocêntrico e hostil aos interesses de outros animais, coloca-os na condição de objetos de propriedade. Abrir mão da condição de proprietário e senhor requer força, coragem e desprendimento. Esse é o modo da libertação humana.

O modo de vida vegano precisa ser seguido com plena consciência de que estamos atados à mesma teia na qual os conceitos e valores que desprezam, hostilizam e destruem a liberdade, a autonomia, o bem próprio e a vida dos animais são mantidos por todos nós. O veganismo requer paciência e lucidez, mas, sobretudo, coragem para o enfrentamento. Não para confrontar inimigos externos, mas para enfrentar o próprio padrão mal-acostumado de usar animais para atender às necessidades humanas, não importa se triviais ou cruciais.

Para ser vegano sem ser impositivo, há que fomentar virtudes esquecidas nos tempos atuais. Uma delas é o senso de justiça para além da barreira especista e sexista antropocêntrica. Com tal virtude chegamos ao respeito pelos interesses singulares de seres de outras espécies, e a eles concedemos finalmente a atenção amorosa e a compaixão éticas, requeridas dos defensores da libertação animal que atendem ao que o princípio da não-violência racionalmente prescreve. Sem aquelas virtudes a energia se esvai e o ativismo político em defesa dos direitos animais acaba por não trazer no curto prazo os resultados ansiados.

A par com a virtude no plano individual, os veganos precisam aprender a conviver com os demais, nem sempre antenados na mesma frequência mental e emocional deles. Cada vegano compõe um mosaico de valores e interesses com personalidade única, que encontra um elo comum, o da defesa dos direitos animais e da abolição de todas as formas de sua exploração e morte. Para além da afinidade ética, veganos cultivam também outros interesses. O veganismo não configura, assim, uma ortodoxia existencial. Por isso, les gôuts des autres (o gosto dos outros) e suas preferências precisam ser reconhecidos. Fingir que não temos idiossincrasias atrapalha nossa comunicação e prejudica o vigor que nosso objeto comum, a luta pela abolição de todas as formas de escravização de animais de quaisquer espécies, requer.

A vida nasce livre. Em qualquer que seja seu design, um direito fundamental lhe assiste: o de prover-se nos moldes específicos, orientada pela mente particular que tal modo cria. Não importa o formato no qual o indivíduo nasce. A aparência pode ter muito peso para uma estética especista, para uma moral especista que não reconhece valor a não ser no que tem semelhança conosco, mas não tem peso algum para a ética animalista biocêntrica, pois essa tira o agente moral do centro das atenções. Em seu lugar coloca aqueles que sofrem os desmandos do domínio humano tirânico. Esses são o fim último para o qual a ação moral deve tender.

Os animais não são objetos de propriedade, embora por milênios tenham sido tratados e definidos como tais. Isso se deve ao fato de que, quem os citou pela primeira vez na história como objetos de propriedade, existindo para atender aos negócios, interesses e necessidades humanas (Código de Hamurabi e as Leis de Eshnuna), não encontrou oposição alguma à ideia. De algum modo, os que estavam enredados na teia do poder econômico que o uso de animais permitia erigir, eram os mais interessados em desqualificar o valor inerente à vida de animais e de humanos escravizados. Humanos destituídos de propriedade, e, portanto, do poder que ela confere, estavam e ainda estão na exata condição das demais espécies animais escravizadas. À esses a palavra ou a expressão de sua forma específica de viver não é concedida. Deles, toda a liberdade foi tirada.

Hoje, a história mostra outra face. Já há quem se oponha frontalmente contra o uso de animais, mesmo sabendo que tal uso não será extinto do dia para a noite, de forma mágica, sem requerer trabalho e dedicação dos que a ele se opõem. Os que se posicionam e expressam de forma vegana não estão mais na condição de escravos, embora também não estejam na de senhores. Abdicar do poder tirânico exercido por milênios sobre os corpos, a sexualidade e a vida alheia, é a forma de libertação que os veganos abraçam.

Cabe justamente aos que não ocupam nem a posição de senhores, nem a de objetos da propriedade, provar que é possível abdicar das práticas institucionalizadas de escravização sexual dos animais não-humanos e viver dignamente a vida de um humano. Não esperemos que os animais nos provem isso, nem aguardemos que seus abusadores sexuais o reconheçam. Isso seria o mesmo que esperar que perdessem o gosto de capitalizar lucros animalizados. Somos nós, cidadãs e cidadãos livres da propriedade sobre a vida e a sexualidade de outros seres vivos, que devemos produzir a desanimalização das práticas e negócios humanos.

O projeto de criar uma cultura não animalizada, livre do emprego de animais vivos ou mortos, e sem a dependência de derivados de seus corpos, vivos e mortos, enfrenta o desafio de abolir a produção industrializada de animais para consumo humano, experimentos, lazer e suprimentos. A objetificação de animais só é possível pela dominação sexual que os humanos exercem sobre eles, em outras palavras, pela mecanização do processo reprodutivo.

A natureza reprodutiva de bovinos, suínos, avinos, caprinos e equinos não permite sua reprodução em números que batem recordes em relação a toda reprodução animal conhecida ao redor do planeta. Somente para a exploração da indústria de laticínios, os Estados Unidos e o Brasil contabilizam juntos uma população de aproximadamente 500 milhões de vacas, escravas sexuais, inseminadas mecanicamente ao longo dos 6 a 8 anos de gestação, parto e lactação aos quais são condenadas até exaurirem. Destino melhor não é garantido às galinhas exploradas sexualmente pela indústria de ovos. Ao cabo de 4 anos estão esgotadas. Tanto as galinhas quanto as vacas, exploradas sexualmente pela indústria ovo-lacto, acabam nos matadouros. Não se pode adotar o modo de vida vegano e ao mesmo tempo ignorar a escravização sexual de algumas espécies animais, mantendo-se o especismo eletivo sexista, enquanto se condena a escravização de outras.

A abolição da escravização animal passa inevitavelmente pela abolição das práticas de escravização sexual animal. Não havendo reprodução mecanizada, não há como forçar a nascerem os bilhões de seres produzidos pela indústria de carne, leite e ovos.

O projeto de vida vegano visa ensinar ao ser humano a prover-se de modo não-animalizado, quer dizer, a obter benefícios em sua vida, tais quais saúde, bem-estar e realização profissional, sem que isso represente malefício para os animais. Esse é um desafio à inteligência humana. Enfrentando-o, ampliamos nossa criatividade. É preciso inventar modos veganos de comer, vestir-se, manter-se saudável, curar doenças, divertir-se e processar itens sem componentes derivados de animais.

Se há humanos dispostos a abolirem o consumo de todo e qualquer uso de animais, já não há um poder absoluto, hegemônico e inquestionável de propriedade sobre eles. Embora ainda sejam poucos os humanos que abdicam de usar animais e produtos derivados deles, esses poucos já marcam sua presença no mundo. Formamos uma Sociedade Vegana, uma comunidade dos que traçam sua biografia em torno do eixo da libertação dos animais e da defesa deles como sujeitos de direitos fundamentais, daqueles direitos vinculados à vida, à liberdade e à condição de vulnerabilidade na busca do próprio bem a seu próprio modo.

Se tínhamos algo a que se podia denominar “movimento vegano”, embora não houvesse sido organizado, agora juntamos os projetos e experiências individuais e formamos um leque de ações destinadas à redefinição dos padrões morais nos quais todos fomos formatados. O movimento vegano é, nesse sentido, um movimento ético, político e cultural de proposição e construção de uma cultura moral na qual os animais não serão mais considerados objetos de propriedade, mas, sujeitos de sua vida (Tom Regan). Na condição de sujeitos, cabe a eles direitos fundamentais, tais quais os atribuídos a qualquer humano: o direito à vida, o direito à não privação da liberdade, o direito à reprodução, o direito ao movimento necessário para o provimento nos padrões individuais e próprios de cada espécie. A privação, eticamente injustificável, de qualquer desses direitos, viola a condição de sujeitos de suas vidas, tão inerente à vida animal quanto o é à humana.

Isto posto, resta lembrar que a jornada vegana mal começou, se contamos a rede quase infinita de práticas institucionalizadas de exploração dos tecidos animais para fabrico de itens do consumo humano. Até aqui fizemos o que estava ao nosso alcance, cada um a seu modo, para difundir a ideia de que algo precisa ser revisto no que diz respeito ao estatuto de objetos de propriedade ao qual animais não-humanos estão condenados.

Temos nos abstido de comer alimentos animalizados (industrializados a partir de matéria de origem animal), de usar roupas e acessórios animalizados (fabricados a partir de matéria prima de origem animal), de comprar produtos de higiene pessoal e de limpeza animalizados (compostos a partir de derivados de origem animal e testados em animais), de visitar espetáculos animalizados (montados usando animais como figurantes), de frequentar espaços animalizados (atividades que divertem humanos às custas do sofrimento dos animais). Embora cada um de nós tenha feito tudo isso, ou um pouco disso tudo, individualmente, ainda não nos juntamos para começar a fazer as mesmas coisas de modo coletivo, isto é, político.

Estamos criando nesse momento uma nova cultura. Ao fazermos as coisas esclarecidos na presença uns dos outros, o fazemos com mais poder de disseminação através dos meios de comunicação de massa. Mas, continua a ser essencial para a manutenção dessa energia, fazer tudo visando abolir a escravização dos animais, e conquistar as pessoas para fazerem parte desse projeto ético, cada. Conforme dito acima, o movimento vegano no Brasil dá agora seu primeiro passo, um passo que vai além da difusão do vegetarianismo restrito à questão alimentar.

A partir desse momento, estamos juntos no projeto de remover da consciência humana todo e qualquer traço antropocêntrico que evoque animais como objetos de propriedade e humanos como seus senhores. Tirando-nos do lugar de senhores, tiramos os animais do lugar que os torna vulneráveis à hostilidade, desprezo e destruição, nos moldes do padrão cultural e moral animalizado.

Desafios do modo de vida vegano

1. A paz e não-violência para os animais é o objetivo final buscado pelo vegano e vegana. Qualquer benefício pessoal que possa resultar dessa nova forma de viver é consequência da atitude vegana, não sua finalidade.

2. A justiça social e ambiental são meios para que se alcance a paz e não-violência para todos os seres vivos. A defesa da natureza e sua preservação implica no cuidado atencioso de todas as formas de vida, e na abstenção de tudo o que implica escravização de animais.

3. Os direitos fundamentais animais precisam ser defendidos com a mesma tenacidade com a qual se defendem os humanos.

4. A saúde humana precisa ser assegurada sem a exploração de animais e sua submissão a experimentos.

5. A higiene, limpeza e beleza humanas não podem ser obtidas às custas da vida, do bem-estar e da desfiguração de animais.

6. A pele e a preservação da intimidade do corpo humano não devem ser protegidas às custas da tortura e morte de quaisquer animais.

7. Os nutrientes para o organismo humano devem ser assegurados por alimentos estritamente vegetais, descartando-se a hipótese de usar animais para prover matéria alimentar humana.

8. Da mente humana devem-se erradicar as ideias, conceitos e argumentos que justificam e fomentam o uso de animais. Se não se usa matéria animal para comer e vestir, também não se a usa para falar.

9. Os produtos à venda no mercado mundial devem ser desmontados em sua composição, para que se possa ter ciência dos ingredientes que compõem a alimentação, o vestuário, adornos, cosméticos, material de limpeza, higiene, e todos os produtos da indústria química, das tintas aos componentes high tech, do lazer aos esportes.

10. Aos jovens se deve dizer a verdade sobre a exploração e escravização dos animais. Dos mais velhos se deve cobrar a indiferença em relação ao fato de terem se deixado levar pela propaganda no que diz respeito à melhor forma de prover as necessidades da família.

11. À tradição alimentar e moral animalizada devemos dar um adeus. Desassinar o contrato de expropriação da vida animal é nosso desafio.

12. Dos governantes não há o que esperar na defesa dos direitos fundamentais dos animais, pois a maior parte deles é eleita pelo agronegócio. Via de regra, todo governo é movido pelo capital. Quando se trata de atender à vida em desgraça, especialmente se a desgraça afeta milhões de indivíduos, os governos não sabem o que fazer. Isso vale para a desgraça dos milhões de humanos abatidos por forças às quais não podem fazer frente, tanto quanto para a de bilhões de animais abatidos por forças igualmente avassaladoras.

13. Para tornar-se vegano num mundo animalizado são necessários todos os anos restantes de nossas vidas. Quando nos damos conta de que algum produto ou serviço é oferecido às custas da escravização ou morte de animais, tal produto ou serviço precisa ser dispensado para sempre.

14. O dever positivo direto de respeito aos direitos animais não nos autoriza a negociar unilateralmente nosso padrão de vida contra o direito deles de terem sua vida boa.

15. Ser vegano não é algo estático, de fato não é sequer um estado de ser. É um movimento contínuo, uma luta contínua, não contra alvos externos, mas contra alvos internos. É uma maneira de passar a limpo os arquivos mentais que nos conduzem intuitivamente em nossas escolhas diárias. Ser vegano implica em abrir mão das intuições morais herdadas da tradição e pôr no lugar delas um princípio ético do qual não se abre mão na hora de comer, de ir para a cama, de divertir-se e de instruir-se.

16. Surpresas estão reservadas para os que se tornam veganos. Por detrás de cada dobra de tecido alimentar ou do vestuário, de cada item ou componente dos objetos de uso diário esconde-se a história da exploração, sofrimento e morte de animais não-humanos. Ser vegano é ter disposição para examinar tais pregas e alisá-las uma a uma. Enquanto já nos despregamos de dez ou quinze itens que antes constituíam nosso consumo diário, há quem sequer tenha se despregado de um ou dois deles, carne e laticínios, por exemplo.

17. Vivendo no mesmo plano terrestre dos outros humanos e tendo sido formatados na mesma matriz cognitiva e moral deles, precisamos aprender a olhar para o que eles ainda não fazem, como se fôssemos nós quem ainda não houvéssemos feito coisa alguma. Em vez de apontar para o outro, precisamos apontar para nossas práticas. Se somos coerentes, outras pessoas farão dela um espelho. Se fracassamos, quem mais tem a perder com nosso fracasso são os animais. É preciso abolir a ética animalizada antropocêntrica e em seu lugar construir um modo de vida com base numa ética genuinamente animalista.

“Teologia animal” é reconhecida como novo campo de estudo na Inglaterra

O reverendo Andrew Linzey é um estudioso do que vem sendo chamado de ‘teologia animal’, agora oficialmente reconhecida como uma nova área de estudo teológicos. Embora para muitos pareça ser uma brincadeira, as coisas mudaram depois que ele foi premiado com um reconhecimento universitário de alto nível.
Ontem (9/11) ele recebeu o título de doutor honoris causa em Divindade. A premiação foi concedida pela Universidade de Winchester, Inglaterra. Trata-se de um reconhecimento pelo seu “trabalho pioneiro nesse campo”. A cerimônia foi realizada juntamente com um culto na catedral de Winchester.
O doutor Linzey atualmente é diretor do Centro para Ética Animal de Oxford, co-diretor da Revista de Ética Animal e publicou em 2007 o livro que o qualificou para o prêmio: Creatures of the same God [Criaturas do mesmo Deus], publicada pela editora da Universidade de Winchester. Em sua obra, Linzey que é pastor ordenado pela Igreja Anglicana, reúne uma série de artigos seus compilados em forma de livro para defender o vegetarianismo, lembrar que Deus salvou os animais na arca de Noé, propor que a igreja se envolve em campanhas contra a caça esportiva, defender o direito dos animais à vida e mostrar que os animais tem um papel importante nas Escrituras, desde Gênesis até Apocalipse.
O pastor Linzey também é autor de livros como Christianity and the Rights of Animals [Cristianismo e os Direitos dos Animais], After Noah: Animals and the Liberation of Theology [Depois de Noé: Os Animais e a Teologia da Libertação] e Animal Rights: A Christian Perspective [Uma perspectiva cristã sobre os direitos dos animais].
Ele agradeceu em nome dos seus colegas do Centro de Oxford e acrescentou “A ética animal é uma disciplina emergente, com muitos cursos universitários em quase todo o mundo. Este prêmio é um encorajamento para todos aqueles que estudam este campo. A ética animal lida com os desafios que esse novo pensamento apresenta. Seja de maneira conceitual ou prática, é uma compreensão mais profunda das relações tradicionais entre humanos e animais”.
O vice-chanceler da Universidade, professor Elizabeth Stuart, comentou: “Aqui na Winchester nós valorizamos e celebramos aqueles que defendem os que não têm voz e desafiam os paradigmas dominantes. Vamos homenagear um dos defensores de animais mais atenciosos e apaixonados que conheço, alguém que eu acredito que ainda vai ser lembrado como um dos teólogos mais influentes e pioneiros de sua época. ”
O agora doutor Linzey retribuiu a gentileza: “A Universidade de Winchester tem um dos departamentos de teologia mais progressista do país, e estou muito satisfeito por estar associado a ele”. Linzey foi professor de teologia “tradicional” durante muitos anos, mas recentemente se especializou em teologia animal.
Embora não esteja oficialmente ligado a uma denominação específica, o site do Centro de Ética Animal que ele preside apresenta vários artigos que abordam questões éticas e teológicas relacionadas aos animais.

Original em português publicado em Notícias Gospel
Traduzido e adaptado por Gospel Prime de Indcatholicnews e Religio News

1º Seminário Amazônico de Direito Animal


PROGRAMAÇÃO
Dia 12 de novembro de 2011, Sábado
8h30 às 9h30 – Credenciamento
9h30 às 10h – Abertura – VEM

10h às 11h – Sobre Nutrição Vegetariana
Palestra com George Guimarães (SP).
Nutricionista, diretor da Nutriveg e do Veddas, conferencista
internacional da Universidade de Loma Linda (Califórnia/EUA),
docente da primeira disciplina de pós-graduação sobre nutrição
vegetariana na UNASP/SP.
11h às 12h – Debate.

12h às 14h – Almoço Vegano. Vídeos sobre
Veganismo e Direitos Animais.

14h às 15h – Projetos Legislativos sobre Direitos Animais.
Apresentações do Dep. Estadual Edmilson Rodrigues
e do Vereador José Skaff.

15h às 16h – Sobre os Direitos Animais
Palestra com o Prof. Dr. Heron Godilho (BA).
Pós-Doutor pela Pace Law School (EUA); Promotor de Justiça
do Meio Ambiente de Salvador-BA; Professor da UFBA,
onde lidera o grupo de pesquisa em direito ambiental e direito animal.
16h às 17h – Debate com a participação de representantes do
Ministério Público e do Judiciário do Pará.

17h as 18h – Ativismo em Belém – entidades de defesa dos
direitos animais.

Dia 13 de novembro de 2011, Domingo
9h às 12h – Oficina de direitos animais e ativismo.
12h – Encerramento cultural e entrega de certificados.

MAIS INFO
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"Faroeste ou Noroeste Caboclo"????


Nesta quinta-feira, dia 03 de novembro, por volta das 12:00, chovia mensagens nas redes sociais sobre uma situação vexatória para o sr. governador do DF. Simplesmente, havia cerca de 300 policiais do BOPE no Santuário dos Pajés para "dar conta" de 50 indígenas manifestantes, que se recusam a entregar o local de mãos beijadas para as construtoras da capital federal.

Segundo postado pelo Centro de Mídia Independente, hoje às 9:41, "cerca de 20 pessoas foram presas e levadas à 2º DP por defender a natureza e os direitos indígenas, o que segundo Agnelo é Crime! Essa ação demonstra claramente que não há liberdade de manifestação no Distrito Federal, e que os mesmos que há pouco mais de 40 anos fizeram suas carreiras políticas oportunamente se autoproclamando defensores da liberdade e dos direitos humanos, quando não eram governo, e o brasil era governado pelos militares, hoje estão no governo destruindo a natureza, mandando a polícia espancar manifestantes, destruindo as história indígena, e defendendo única e exclusivamente os interesses dos que financiaram suas campanhas."

Cabe lembrar que estamos falando do "metro quadrado mais caro do país. Cada lote foi negociado por cerca de 15 milhões de reais pela Terracap, empresa estatal de Brasília que negocia as terras da união. Duzentos apartamentos já foram vendidos na planta a uma média de 1,5 milhão cada." (Fonte: Envolverde)

Brasília não pode virar as costas para este drama! E o Brasil também não! Assine a petição, participe das manifestações, divulgue o que está acontecendo entre sua rede de amigos, compartilhe o vídeo abaixo e não deixe, por favor, este assunto passar despercebido sem a devida atenção que merece!


Sagrada Terra Especulada - A luta contra o Setor Noroeste.