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As coisas podem terminar de outra forma :)

Não sei se todos já conhecem este lindo vídeo parte de uma campanha pelos direitos animais em Israel. Emocionante. E a mensagem no final é de tirar o fôlego: as coisas podem terminar de outra forma! ♥ ♥ ♥ Espero que gostem.

Vamos fazer nossa parte para acabar com as crueldades na UEM e na UFG?

Denúncias de crueldades impostas a animais na Universidade Estadual de Maringá e Universidade Federal de Goiás estão chocando os defensores dos direitos animais. A situação em ambas as instituições é áviltante e precisamos muito da ajuda de cada um para que possamos acabar com tanto sofrimento.

Em relação à Universidade Estadual de Maringá, esta semana os jornais noticiaram o que muitos de nós já sabíamos. Cães da raça beagle e alguns sem raça definida são utilizados na Faculdade de Odontologia e a polêmica já chegou ao gabinete do Governo do Estado, que se comprometeu a buscar uma solução junto ao Reitor da Universidade. O Ministério Público já entrou com uma ação comprovando que as condições sanitárias são precárias, contando inclusive com um relatório do Conselho de Medicina Veterinária do Paraná. Além disso, experiências feitas pelo departamento já são realizadas em seres humanos desde 2001, o que não justifica a utilização dos animais para tais fins.

Para complicar a situação, depois da entrada da ação civil pública pelo Ministério Público do Paraná contra a UEM, o juiz da 5a vara civil de Maringá, Sr.Siladelfo Rodrigues da Silva, assinou o documento, em que, apesar de determinar o fim da utilização destes animais em experimentos, lamentavelmente, decidiu manter os cães sob a tutela da denunciada: a própria Universidade.

Aqui na página da Weeac Brasil é possível ajudar a pedir que esta decisão seja revista e que os animais sejam encaminhados para adoção ou fiquem sob responsabilidade de uma entidade onde realmente não correrão mais risco de serem maltradados.

Outro episódio de maus tratos a animais está preocupando imensamente os ativistas que estão tentando há anos imepdir que cães sejam utilizados em experimentos na Universidade Federal de Goiás. As denúncias são gravíssimas e não conseguimos acreditar que até agora nada foi feito para que as mesmas fossem apuradas e os acusados responsabilizados pelos seus atos. Neste site é possível compreender a gravidade da situação e ajudar no envio de mensagens, além da difusão de uma petição criada especialmente para este caso. Podemos contar com a sua ajuda?

Mais duas universidades canadenses abandonam o uso de animais nos cursos de medicina


Publicado pela ANDA em 21 de outubro de 2011

Mais duas universidades canadenses concordaram em parar de usar animais vivos no treinamento de estudantes de medicina, marcando o fim desta prática no país, afirmou o principal grupo médico de direitos animais, que impulsionou a campanha para a mudança.

Em novembro de 2010, a Memorial University de Newfoundland, no Canadá, optou por abolir o uso de animais vivos nos laboratórios da Faculdade de Medicina, inspirando as outras universidades a fazerem o mesmo.

Médicos e outros residentes de trauma da Universidade de Sherbrooke e do Hospital do Sagrado Coração, ambos em Québec, começaram a praticar em simulares computadorizados da fisiologia humana, ao invés de utilizarem porcos e cachorros, relatou o canadense “National Post”.

Isso significa que nenhuma das 22 universidades canadenses e hospitais que ofereciam o curso avançado de suporte ao trauma usará animais a partir de agora, disse o médico John Pippin, relações públicas do Comitê Médico para uma Medicina Responsável, de Washington. No último ano, o uso de animais no treinamento de estudantes de medicina quase cessou, ele disse.

“Nós estamos confiantes que o Canadá, Deus os abençoe, está tomando o rumo certo”, disse Pippin.

O Comitê também apoia dietas veganas e vegetarianas, pesquisas mais éticas e humanas e pelo fim do uso de animais no estudo médico e na educação. Embora eles tenham conexões com o PETA, o grupo baseia seus argumentos mais em termos de uma saúde e ciência melhores, do que no que é bom para os animais.

As mudanças nos cursos de trauma foram controversas, embora a Universidade de McMaster em Hamilton ter cessado o uso de animais no ano passado, queixando-se que muitos estudantes acharam os simuladores uma má escolha e que a política só mudou após pressão das associações estado-unidenses.

As universidades de veterinária também disseram que as condições em que os porcos viviam – incluindo o uso de anestésicos pelos estudantes enquanto eram operados e o seu assassinato após a retomada de consciência – eram muito mais humanos do que a matança para alimentação humana.

A Universidade de Sherbrooke foi pressionada pelo Comitê a abandonar o uso de animais no treinamento de estudantes, mas só optou pelo uso dos simuladores após as mudanças feitas em outras universidades, disse o médico Pierre Cossette, professor da Universidade de Sherbrooke.

“É o melhor jeito, falando em termos educacionais, de se ensinar e de se aprender”, ele disse. “Para nós, era muito fácil… o fato de isso ter ajudado a salvar muitos animais foi uma boa coisa.”

Não só os simuladores – bonecos sofisticados ligados a um computador – mimetizam a anatomia humana, mas eles também providenciam um feedback eletrônico para que os residentes saibam o resultado de seu trabalho, disse Cossette.

Uma série de estudos que pesquisaram a opinião dos residentes sugeriram que os simuladores são ao menos uma boa alternativa aos animais vivos. Um estudo da Força Aérea Estado-unidense publicado neste ano, entretanto, mostrou que os residentes que treinaram em animais tiveram mais vantagens de aprendizado do que os estudantes que treinaram em simuladores.

O Comitê está apostando em um objetivo que é exponencialmente mais controverso do que o primeiro: acabar com o uso de animais em toda a pesquisa médica.

O Gado Capital

Leitura recomendada!!!


O Gado Capital


Publicado no Esquerda.Net em 17 de outubro de 2011
Por Hugo Evangelista

Até cerca de 10 mil anos atrás, a humanidade não tinha capacidade de produzir alimentos, apenas de os recolher. O trabalho de cada elemento era necessário para manter viva uma comunidade, o que levava a que a existência de qualquer tipo de privilégios condenassem à fome parte dos seus elementos, como confirmam os estudos dos antropólogos Hobhouse, Wheller e Ginsberg ao estudar 425 diferentes tribos.

Com a revolução neolítica, que iniciou a domesticação e criação de animais para alimentação, foi possível a acumulação de víveres e a libertação de elementos da comunidade para outras tarefas, o que levou à divisão social do trabalho, através da especialização.

Se este excedente permitiu um aumento da produtividade e bem-estar médio, também levou à criação das primeiras desigualdades sociais. São os chefes militares ou religiosos que controlam a gestão deste excedente e incitam ataques sobre outros terrenos ocupados, com mais animais. Com isto surgem os primeiros humanos prisioneiros de guerra que serão a mão de obra barata das classes dominantes.

De facto, a origem da palavra "capital" surge do latim capitale, que significa "cabeça", uma vez que as cabeças de gado eram e são uma medida da riqueza possuída pelos seus proprietários, os capitalistas. A partir do século XII e XIII, a palavra "capital" começou a ser usada para designar acumulação de riqueza de outra natureza, como terrenos, dinheiro, títulos, e outros bens.

O Capitalismo foi o sistema económico que se desenvolveu no século XVI, como resposta ao feudalismo, e que no século 19 e 20, com o advento da industrialização, se tornou o sistema económico dominante no mundo.

O que é que define e caracteriza o capitalismo?

A natureza do capitalismo é a apropriação pelo proprietário privado dos meios de produção (capital) e da capacidade de produção, para assim acumular a maior riqueza possível.

A riqueza produzida pelo conjunto de trabalhadores e trabalhadoras não é distribuída por estes e estas. Ao mesmo tempo, os animais são forçados a fazer parte deste sistema de produção, que os cria, alimenta e mata, seja porque razão for. A estes não é dada uma boa qualidade de vida, mas apenas o mínimo necessário para que consigam sobreviver, para que mantenham os processos de produção de riqueza.

É o lucro pelo lucro e a acumulação pela acumulação que beneficia alguns, poucos, que têm o privilégio de controlar os meios de produção, em prejuízo de todos os outros.

É única e exclusivamente um modelo, que nos é proposto todos os dias, para que os proprietários acumulem mais riqueza e mais capital, à conta da cada vez maior destruição ou exploração do planeta, dos animais ou dos trabalhadores.

É interessante verificar que o racismo, homofobia ou o sexismo têm funcionado na história do capitalismo para criar divisão nas classes trabalhadoras, como forma de aumentar a exploração e a taxa de lucro. Também em nome do lucro imediato se têm discriminado as gerações futuras, por exemplo através da destruição de recursos naturais (ex. alterações climáticas) ou da contração de dívidas impagáveis.

No desenvolvimento do capitalismo industrial os animais têm desempenhado um papel central, funcionando como propriedade, como escravos sem capacidades para exigir outras condições. O seu corpo, as suas funções e o produto da sua vida são mercantilizados pelo capital, subordinando-os nos seus "interesses de relação com a natureza e outros membros da mesma espécie" e reduzindo-os aos objectivos que esse capital lhes decidiu conferir.

Ou seja, um grande criador de porcos não explora os animais porque é insensível, ou cruel. Fá-lo porque isso lhe dá dinheiro, e essa acumulação de dinheiro sobrepõem-se a outros interesses e necessidades que estejam em jogo.

Graças à intensificação do modelo capitalista também temos observado um aprofundamento da dominação dos animais, seja pelos aspectos inerentes à intensificação da sua criação, seja pela manipulação genética que os tem deformado de acordo com interesses humanos ou pelas consequências relacionadas com a sua comercialização como objectos descartáveis (por exemplo a compra por impulso de animais domésticos).

Mas os animais têm interesses e necessidades intrínsecas, que os distinguem muito das máquinas; não podem ser tratados, por isso, como meros factores de produção.

Por isso, a luta pelos direitos animais é também uma luta por um novo modelo de produção e pelo fim da dessensibilização dos humanos face à violência que os animais sofrem. Esta é, portanto, uma tarefa na qual todos e todas temos que refletir e agir.

Crueldade Contra Animais e Educação Humanitária

Recomendadíssimo! Este é um documentário que apresenta um projeto sensacional onde comunidades carentes são ensinadas a respeitar os animais, de forma a inibir a crueldade contra todo e qualquer ser vivo. Em duas partes, legendado.



Abolicionismo: vanguarda utópica ou futurista?

Abolicionismo: vanguarda utópica ou futurista? 
Jean Pierre Verdaguer

Desde que as primeiras civilizações vicejaram sobre a Terra, indivíduos, grupos, povos e até etnias inteiras são vítimas de agressões violentas, humilhações, explorações e escravizações. Pérsia, Grécia, Índia, China... Mesmo as aparentemente iluminadas civilizações antigas mantiveram, em algum momento, regimes escravocratas, divisão por castas e outros tipos de exploração sistemática de seres humanos. Até tribos indígenas rudimentares do Brasil pré-descobrimento tinham o costume de raptar e escravizar membros de tribos rivais, o que denota que o hábito sequer se restringe às chamadas grandes civilizações.

Na época das grandes navegações e da expansão do mundo conhecido, a economia mundial era praticamente movida sobre as sangrentas rodas e engrenagens de regimes autoritários, monárquicos e escravocratas. Com o tempo – e o advento do capitalismo primitivo –, esses regimes entraram em declínio e, conseqüentemente, para evitar o colapso total do sistema, se viram obrigados a mudar as regras do jogo. Começaram, um a um, a abolir (ou seria abdicar?) o uso de trabalho escravo, entre outras medidas.

Embora muitos pensem que essas atitudes libertárias tenham sido desencadeadas pelos novos paradigmas iluministas e positivistas, ou por grandes levantes liderados por idealistas abolicionistas que forjaram, na marra, a libertação maciça de escravos, a nada romântica realidade é que os senhores de escravos vislumbraram promissoras vantagens econômicas em se desfazer daqueles trabalhadores – cuja subsistência dependia totalmente dos “donos” –, e substituí-los por outros bem mais baratos: assalariados, que davam o sangue com muito mais boa vontade e a custos muito menores.

Apesar disso, quase 150 anos depois da abolição, o Brasil continua sendo palco de notícias sobre trabalhadores encontrados em regime de escravidão ou semi-escravidão, nas barbas do poder público e às vistas da mídia onipresente, à taxa média, juram as estatísticas, de 25 mil novos escravos por ano!

No mundo todo, estima-se que existam 40 milhões de trabalhadores escravizados, 8 milhões de crianças tratadas como mercadoria e de 4 a 5 milhões de mulheres em situação de servidão sexual.

Também se fala em cerca de meio bilhão de pessoas maltratadas e impiedosamente exploradas em campos de mineração, estivas portuárias, latifúndios em áreas remotas, indústrias pesadas e etc, recebendo remunerações tão espantosamente baixas que chegam a soar improváveis quando trazidas à luz de reflexões sociológicas.

Sem contar a infinidade de mulheres acintosamente humilhadas – muitas das quais mutiladas! –, obrigadas a se submeter a tradições e leis machistas, preponderantes no oriente médio, na áfrica e em tantos outros lugares.

Os casos de violência doméstica, no mundo, contra crianças, mulheres, deficientes e idosos, são tão numerosos que carecem de estatísticas confiáveis. Podem beirar dois bilhões de ocorrências diárias!

O ser humano – assim parece –, por definição, explora. Pai explora filho, marido explora esposa, neto explora avô, irmão explora irmão, patrão explora funcionário, fortes exploram fracos, poucos exploram muitos, corporações exploram milhares, igrejas exploram milhões, tiranias e etnias exploram bilhões...

Daí o monumental obstáculo que emperra a eficiência do movimento pelo abolicionismo animal: agindo junto a uma sociedade de humanos que histórica, diária, sistemática e inevitavelmente exploram impiedosamente uns aos outros, torna-se humanamente impossível lhes inocular a noção de que não é razoável abusar dos outros animais.

Em outras palavras, como sugerir o uso do senso ético a uma sociedade que sequer veio com esse software instalado?

Assim sendo, como, em sã consciência, pode um ativista do direito animal pregar o abolicionismo total e irrestrito e não se abalar diante dos pálidos resultados dessa luta inglória? O desafio, hercúleo, é tamanho que se torna quase uma missão mítica, utópica, profética... Tende a virar questão de fé e acaba assumindo ares de religião, com direito inclusive a seus dogmas, tabus e estigmas.

Um dos maiores problemas que a dogmatização do abolicionismo acarreta, para a própria causa que defende, é a pressão contrária que muitos de seus adeptos freqüentemente exercem sobre uma corrente diversa de defesa dos direitos animais, que chamam – em geral, pejorativamente – de bem-estarismo. Para o pensamento abolicionista mais ortodoxo, o bem-estarismo traria prejuízos incalculáveis à “verdadeira” causa do direito animal, por lutar “apenas” por melhorias nas condições de criação, tratamento e abate dos bichos. “Ora”, afirma-se com fervor, “se o mundo todo adotar o bem-estarismo como meta, logo os animais estarão sendo tão ‘bem-tratados’ que será inútil qualquer iniciativa para tentar livrá-los definitivamente da sina da exploração comercial humana”.

O que tal pensamento não considera – ou reluta em admitir – é que, embora todas as premissas e justificativas do abolicionismo integral sejam coerentes do ponto de vista ético, a sociedade humana simplesmente ainda não se mostra pronta para aplicá-las na prática.

O abolicionismo é, por assim dizer, uma corrente de pensamento de ultra-vanguarda, muito à frente do seu tempo, apesar de já existir há mais de um século. É, porém, um movimento necessário e se faz premente que haja associações de pessoas dispostas a levá-lo adiante. Mas essas pessoas não deveriam perder de vista a perspectiva de que somente mudanças gerais e profundas nos paradigmas de funcionamento da sociedade moderna é que levarão ao cabo os últimos (primeiros?) objetivos abolicionistas. E que essas mudanças ainda podem levar muito tempo, em vista do atual padrão de consumo global e da ideologia vigente.

Suas ações podem e deverão ser fundamentais na aceleração do processo de mudança desses paradigmas, mas será muito mais crucial a influência do fator que sempre pesou sobre a humanidade: a conveniência econômica. Assim como os regimes escravocratas deram lugar ao regime assalariado por motivos econômicos, a exploração de animais só terá fim quando se provar inviável economicamente. E isso, não graças a fatores muito animadores, deverá obrigatoriamente acontecer dentro de mais algumas décadas.

Por sinal, eis a brecha por onde entram em ação as principais armas das correntes abolicionistas mais “produtivas” hoje: as frentes de libertação animal que visam à deterioração da indústria exploratória, como a ALF, impondo dificuldades ao funcionamento do sistema e causando prejuízos tanto materiais como morais às empresas e instituições que se aproveitam de animais. Essas organizações, em geral clandestinas ou “extra-oficiais”, têm logrado, a seu modo, conquistas importantes para a causa abolicionista. Além da liberação efetiva de muitos animais, conquistam exposição na mídia para o conjunto de pensamentos em favor da defesa dos direitos dos animais, levando o debate ao alcance de uma opinião pública historicamente privada de tais informações.

No âmbito das iniciativas menos agressivas e mais políticas do ativismo abolicionista, alguns avanços se fazem possíveis, mas também são confrontados com fatores de ordem econômica. As chances de sucesso de ações jurídicas, manifestações populares, campanhas informativas e pressões políticas contra as atividades de um circo, por exemplo, são bem maiores do que contra um festival de rodeio. Isso porque ações abolicionistas diretas surtem tanto mais efeitos positivos, quanto menos interesses econômicos e políticos estiverem em jogo. Como, de resto, tudo o mais na sociedade moderna.

Essa lógica nos obriga a constatar que as indústrias alimentícia e de pesquisa científica, que envolvem lobbies particularmente poderosos e cifras virtualmente inimagináveis, estão praticamente fora do alcance do ativismo abolicionista. Na atual conjuntura global, quase nada pode ser feito no sentido de obtenção de moratórias de exploração animal por esses setores. Podemos dizer que o mesmo ocorre, em menor escala, com a indústria da moda, que é alvo freqüente de ações e manifestações e, ainda assim, absorve facilmente os prejuízos causados e mantém o negócio de couro e peles funcionando a todo vapor.

Bem, se admitirmos que a sociedade moderna de consumo não está (ainda) pronta para absorver integralmente os ideais abolicionistas e que, por mais que o ativismo se incremente e avance na direção de dificultar as coisas para as indústrias exploratórias, ainda levará décadas até que seja factível aplicar na prática esses mesmos ideais com eficiência, não faz nenhum sentido se opor tão radicalmente ao chamado bem-estarismo animal. Não, ao menos, do ponto de vista da geração de animais que está sofrendo agora: hoje, no mundo todo, são cruelmente abatidos mais de 2 mil animais por segundo! E todos mortos depois de terem vivido sob as condições mais miseráveis que se possa imaginar.

Inevitavelmente, essas décadas, que podem ser cinco, seis ou mais, transcorrerão paralelamente ao sofrimento de trilhões de animais, que não terão outra alternativa senão a melhoria de suas condições de vida e abate, até que a revolução abolicionista se torne viável. Eis um paradoxo desconcertante e ardilosamente difícil de equacionar: a oposição ferrenha ao bem-estarismo não tem nos orientado rumo ao abolicionismo e ainda leva à divisão, em facções, um contingente de ativistas que, unidos, teriam muito mais influência e poder de fogo para acelerar o processo rumo ao abolicionismo integral.

É curioso notar que ambas correntes ideológicas criticam-se amiúde e mutuamente, mesmo quando é evidente que suas causas favorecem os mesmos sujeitos (os animais explorados) e seus objetivos são perfeitamente compatíveis (diminuição do sofrimento, de um lado e, do outro, fim da exploração).

Não se trata de sugerir que abolicionistas abram mão da legitimidade de seus ideais, nem de pedir para aderirem ao bem-estarismo. Mas, antes, de convidá-los a encarar as duas modalidades de defesa dos direitos dos animais como estratégias complementares, cada uma a seu tempo, com seu ritmo e em seu contexto. Trata-se, por fim, de dar vazão à razão concomitante a paixão, equilibrando-as numa receita que lhes permita enxergar, no que chamam de bem-estarismo, a solução para uma demanda imediata de bilhões de animais que, no curto prazo, não serão libertados em nenhuma hipótese, mas que têm chance real da conquista de condições de vida menos desfavoráveis. E de focalizar os esforços estritamente abolicionistas nas ações que visem à futura e definitiva eliminação, a médio e longo prazo, dos monstruosos “estoques vivos” mantidos pela indústria exploratória.

Para terminar, uma proposta de exercício imaginativo em que não há respostas, apenas perguntas.

Se houvesse tecnologia para entender o pensamento animal, e se com ela pudéssemos escutar o que diz um porco em sua baia minúscula, muito provavelmente ouviríamos “por favor, irmão, eu lhe imploro, trate de convencer os humanos de que não está certo o que fazem conosco”, numa súplica que nos indicaria claramente o caminho do abolicionismo.

Sendo honestos com o porco, teríamos que responder, “estamos fazendo todo o possível, mas os humanos não são fáceis de lidar, são séculos de hábitos arraigados para transcender. Continuaremos lutando pela abolição com todas nossas energias. Mas, por hora, o máximo que podemos fazer é aumentar o tamanho de seu cativeiro, melhorar suas condições de vida e amenizar os horrores da sua morte”.

Como será que ele reagiria? “Muito obrigado por seus esforços, todo alívio é bem-vindo! E tomara que consiga nos libertar no futuro”. Ou “muito obrigado, mas se não pode libertar a mim e aos meus, migalhas bem-estaristas jamais aceitaremos”.