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O Gado Capital

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O Gado Capital


Publicado no Esquerda.Net em 17 de outubro de 2011
Por Hugo Evangelista

Até cerca de 10 mil anos atrás, a humanidade não tinha capacidade de produzir alimentos, apenas de os recolher. O trabalho de cada elemento era necessário para manter viva uma comunidade, o que levava a que a existência de qualquer tipo de privilégios condenassem à fome parte dos seus elementos, como confirmam os estudos dos antropólogos Hobhouse, Wheller e Ginsberg ao estudar 425 diferentes tribos.

Com a revolução neolítica, que iniciou a domesticação e criação de animais para alimentação, foi possível a acumulação de víveres e a libertação de elementos da comunidade para outras tarefas, o que levou à divisão social do trabalho, através da especialização.

Se este excedente permitiu um aumento da produtividade e bem-estar médio, também levou à criação das primeiras desigualdades sociais. São os chefes militares ou religiosos que controlam a gestão deste excedente e incitam ataques sobre outros terrenos ocupados, com mais animais. Com isto surgem os primeiros humanos prisioneiros de guerra que serão a mão de obra barata das classes dominantes.

De facto, a origem da palavra "capital" surge do latim capitale, que significa "cabeça", uma vez que as cabeças de gado eram e são uma medida da riqueza possuída pelos seus proprietários, os capitalistas. A partir do século XII e XIII, a palavra "capital" começou a ser usada para designar acumulação de riqueza de outra natureza, como terrenos, dinheiro, títulos, e outros bens.

O Capitalismo foi o sistema económico que se desenvolveu no século XVI, como resposta ao feudalismo, e que no século 19 e 20, com o advento da industrialização, se tornou o sistema económico dominante no mundo.

O que é que define e caracteriza o capitalismo?

A natureza do capitalismo é a apropriação pelo proprietário privado dos meios de produção (capital) e da capacidade de produção, para assim acumular a maior riqueza possível.

A riqueza produzida pelo conjunto de trabalhadores e trabalhadoras não é distribuída por estes e estas. Ao mesmo tempo, os animais são forçados a fazer parte deste sistema de produção, que os cria, alimenta e mata, seja porque razão for. A estes não é dada uma boa qualidade de vida, mas apenas o mínimo necessário para que consigam sobreviver, para que mantenham os processos de produção de riqueza.

É o lucro pelo lucro e a acumulação pela acumulação que beneficia alguns, poucos, que têm o privilégio de controlar os meios de produção, em prejuízo de todos os outros.

É única e exclusivamente um modelo, que nos é proposto todos os dias, para que os proprietários acumulem mais riqueza e mais capital, à conta da cada vez maior destruição ou exploração do planeta, dos animais ou dos trabalhadores.

É interessante verificar que o racismo, homofobia ou o sexismo têm funcionado na história do capitalismo para criar divisão nas classes trabalhadoras, como forma de aumentar a exploração e a taxa de lucro. Também em nome do lucro imediato se têm discriminado as gerações futuras, por exemplo através da destruição de recursos naturais (ex. alterações climáticas) ou da contração de dívidas impagáveis.

No desenvolvimento do capitalismo industrial os animais têm desempenhado um papel central, funcionando como propriedade, como escravos sem capacidades para exigir outras condições. O seu corpo, as suas funções e o produto da sua vida são mercantilizados pelo capital, subordinando-os nos seus "interesses de relação com a natureza e outros membros da mesma espécie" e reduzindo-os aos objectivos que esse capital lhes decidiu conferir.

Ou seja, um grande criador de porcos não explora os animais porque é insensível, ou cruel. Fá-lo porque isso lhe dá dinheiro, e essa acumulação de dinheiro sobrepõem-se a outros interesses e necessidades que estejam em jogo.

Graças à intensificação do modelo capitalista também temos observado um aprofundamento da dominação dos animais, seja pelos aspectos inerentes à intensificação da sua criação, seja pela manipulação genética que os tem deformado de acordo com interesses humanos ou pelas consequências relacionadas com a sua comercialização como objectos descartáveis (por exemplo a compra por impulso de animais domésticos).

Mas os animais têm interesses e necessidades intrínsecas, que os distinguem muito das máquinas; não podem ser tratados, por isso, como meros factores de produção.

Por isso, a luta pelos direitos animais é também uma luta por um novo modelo de produção e pelo fim da dessensibilização dos humanos face à violência que os animais sofrem. Esta é, portanto, uma tarefa na qual todos e todas temos que refletir e agir.

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